A Primeira Vítima da Maldição

 




Quando meus trisavós Alfredo e Rita se casaram em 24 de novembro de 1897, nem dois meses haviam ainda que a República terminara seu Batismo regado com o sangue de Antônio Conselheiro e seus milhares de seguidores. Agora, após este rito de iniciação, o novo regime de governo imposto no País ganharia o respeito que não tivera por quase uma década. Nenhum monarquista se atreveria mais em tentar restaurar a Monarquia. 

Entretanto, Conselheiro, embora monarquista, nunca quisera derrubar a República. Só queria viver com sua gente bem distante dos progressos que ela trouxera. E um desses progressos era o Casamento Civil, em que o Estado reconhecia celebrações religiosas de qualquer crença, desde que fizessem o Registro Civil para que se pudesse usufruir dos efeitos jurídicos. Assim, quem era casado somente no religioso, sem esse registro passaria a ser considerado solteiro - "Do jeito que o Anticristo gosta!" - deveria dizer o líder espiritual de Canudos. 

Quando encontrei o Registro de Casamento de Rita Burity de Souza com Olintho Ribeiro de Souza, me veio como uma confirmação da traição de minha trisavó que eu já suspeitava há tempos. Quatorze anos depois de seu casamento com Alfredo, teria ela mesmo feito uso das mudanças que a chegada da República trouxera, para se tornar solteira e se casar com seu amor proibido? Teria ela enfrentado a Sociedade de sua época, cometendo um enorme escândalo?

- Foi bem aqui que aconteceu - repetia sempre Dona Chiquinha, minha avó, indicando um lugar onde hoje é a Avenida 27 de Novembro, na lateral do Cemitério de Umarizal, mesma avenida onde fica a Escola Estadual Zenon de Souza. - A casa deles, que ficava de frente, foi depois comprada pelo Senhor Ferreira (hoje falecido), que a reformou. 

Era na época cheio de lajeiro a rua lateral do Cemitério, me contou minha tia Lucy, que foi demolido por enormes máquinas muito tempo depois.

Rita e Alfredo haviam deixado Piancó, por volta dos anos 20, para se fixarem em Gavião, povoado de Martins. Hoje, cidade de Umarizal (Mas como Alfredo teria convencido Rita a se mudar para lá com ele?). Conta meu pai que José Soares Leite, o primogênito do casal, por ser tropeiro, era conhecedor dessa região, tendo indicado ao pai.

A história que foi deixada aos descendentes deles é que Rita gostava muito de cantar. Quando Alfredo chegava em casa bêbado, mandava ela cantar sem parar. Quando ela não aguentava mais, já esgotada, ele se enfurecia e pegava uma faca, saindo correndo atrás dela. Era sempre assim, até que um dia, ao correr, seu longo vestido se enroscou em um pedaço de lenha que ali havia, e ela caiu. Alfredo finalmente a alcançara, golpeando furiosamente a garganta de sua companheira. Há quem diga que foram 18 facadas. Outros contam como 24. Rita, dessa forma, acabou virando a primeira vítima da maldição que seu pai lançara contra ela e seus descendentes (sobre a maldição lançada: O DESCENDENTE SINISTRO DOS OLIVEIRA LEDO QUE VIVEU EM UMARIZAL E PAU DOS FERROS).

Ao ouvir que ele nunca se arrependera do que fizera, passei, a partir desse momento, desconfiar de uma traição de sua esposa.

Mas, como Macbeth*, o Barão de Glamis que é iludido pelas Forças das Trevas para apressar seu destino, estranhas coincidências também me iludem e me fizeram julgar mal a minha trisavó.

Começando pelo Registro de Matrimônio do filho mais velho, José, onde não se vê o nome da mãe dele e nem o da mãe de sua noiva. Como constava o nome de Alfredo, seu pai e assassino de sua mãe, julguei por esse registro de Martins datado de 22 de abril de 1918, que relata a cerimônia ter ocorrido na Capela de Gavião (Umarizal), que Rita ainda estava viva, e que o filho convencera o padre a não constar o nome de sua mãe adúltera em seu registro de Matrimônio. A família da noiva,  para evitar constrangimentos, teria aceitado também que não constasse o nome da mãe dela também.

Segundo, a confirmação de que Rita Maria da Conceição, nome devocional de minha trisavó, era realmente Rita Burity de Souza. Sabia que ela nascera em Piancó, em 1880. Ora, naquele ano nasceram 4 Ritas. O que me levou a suspeitar ser ela a da família Burity foi dois membros dessa família serem os padrinhos de seu casamento com Alfredo. Como eram grandes proprietários, a prova, porém, era fraca, pois apenas poderia ser um gesto para criar laços com os habitantes locais. Mas quando vi em meu Teste de DNA de Ancestralidade constar um membro da Família Burity com um tetravô em comum, e, ao verificar sua Árvore Genealógica, encontrar Antonia Burity,  irmã de Rita, como avó dessa pessoa, não tive mais dúvidas de ser ela a da Família Burity. 

Terceiro, o nascimento do primeiro filho de Rita Burity com Olintho, em 31 de julho de 1899, se encaixa na hipótese dela ter engravidado após o resguardo do parto de seu primeiro filho com Alfredo, que nascera em 13 de setembro de 1898. Olintho, sendo seu primo de primeiro grau, conforme o Registro de Casamento de Piancó, pode ter feito companhia à alguma mulher da família Burity que fora ajudar no serviço doméstico, enquanto Rita estava de resguardo. 

Quarto, há um estranho intervalo entre os filhos de Alfredo com Rita e dela com Olintho. Após o primeiro filho com este último, nasce apenas uma filha em 1900, depois eles não tem mais filhos conforme o Registro de Casamento do Cartório de Piancó, enquanto que em 1901 começa a retomar o nascimento de filhos dela com Alfredo, como se eles tivessem reatado seu relacionamento, nascendo o último, justamente alguns meses antes do casamento de Rita com Olintho. 

Em outra postagem direi o que foi encontrado que invalida esses quatro argumentos que levam a acreditar que minha trisavó Rita seja a que casou com Olintho. E continua a minha busca pelo nome do meu tetravô que amaldiçoou a minha família até a Quinta Geração continua.

Na terceira postagem: 

Caçada a Alfredo Soares Leite, e sua Descendência em Umarizal e Pau dos Ferros


(*) Personagem de A TRAGÉDIA  DE MACBETH, peça teatral de Willian Shakespeare. Ao seguir por um caminho encontra três bruxas, onde a primeira o saúda como Barão de Glamis, que era o que ele era, mas a segunda o saúda como Barão de Cawdor, e a terceira profetiza que ele será rei daí em diante. Ao ver que naquele mesmo dia  se concretiza o que falara a segunda bruxa, Macbeth depois acreditará que para se realizar a predição da terceira, terá que agir, matando seu bondoso primo, o Rei Duncan. A peça seria tida como maldita após a trágica morte do ator que interpretava Duncan, que foi esfaqueado de verdade diante da plateia, pelo que interpretava Macbeth, em 1611. Daí se originou a tradição inglesa de evitar pronunciar o nome da peça, chamando-a apenas de "The Scottish Play" (A Peça Escocesa).



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