Sala das Torturas. Foi ali que o paraibano lavrador de cana, Antônio Nunes Chaves, cristão novo, morador no Engenho de Poxi, na Paraíba, Bispado de Pernambuco, soltou a língua. Diante dos inquisidores, o filho de Diogo Nunes Chaves (1), dentre vários nomes de cristãos novos que entregou Pedro Cardoso. E os inquisidores colheram a seguinte confissão:

    "Disse mais que haverá doze, ou quatorze anos, pouco mais ou menos, no Engenho de Tibiri e casa de Pedro Cardoso, cristão novo que tem parte no dito engenho, casado não sabe o nome da mulher, filho de um fulano Cardoso, senhor do dito engenho, não sabe o nome da mãe, natural e morador do dito sítio, não sabe que fosse preso, ou apresentado se achou com ele e com a mulher do mesmo, a quem não sabe o nome, cristã nova, filha de uma Caterina de Leão, não se lembra do nome do pai, natural do Engenho da Pindoba, e moradora no sobredito sítio, não sabe que fosse presa ou apresentada, estando todos nem a saber, ele, confessante, e os ditos Pedro Cardoso e sua mulher entre práticas que viveram sobre a Lei de Moisés. Se declararam por crentes, e observantes da dita lei para salvação de suas almas e por sua observância disseram que faziam as ditas cerimônias, e não ...mais." (2)

    Os próximos nomes foram Ignácio Cardoso e João de Almeida. Todos, segundo ele, irmãos inteiros de Pedro Cardoso. (3)

A historiadora Zilma Ferreira Pinto em sua obra A Saga dos Cristãos-Novos na Paraíba, edição de 2006, pág. 343 a 346, fora atraída por esses três irmãos cardosos aos quais chamou de "Os Cardoso de Tibiri", desde que os viu constar em Rol dos Culpados, de Anita Novinsky (4) e procurou fazer uma associação deles com Cardoso D'Arão, de Pombal. Zilma só não conseguiu ir adiante, pelo menos na Saga dos Cristãos, porque no livro de Novinsky estava que os três irmãos eram filhos de Francisco Cardoso.

Ora, como estou trabalhando há várias semanas sobre meu ancestral JOSÉ CARDOSO MORENO, que pretendo logo publicar, e já procurava há algum tempo também associar os CARDOSO dele aos CARDOSO D'ARÃO, quando li ontem o livro da Zilma, 12 de outubro de 2025, sobre os CARDOSO DE TIBIRI, tratei de procurar os processos que a Novinsky citou, pois eu tinha uma informação preciosa - José Cardoso Moreno era o proprietário tanto do engenho TIBIRI DE CIMA quanto do TIBIRI DE BAIXO, pois os havia comprado de Luzia de Andrade, viúva do capitão João de Freitas Correia, no dia 17 de janeiro de 1697. (5)

Dei sorte em encontrar o processo de Antônio Nunes Chaves. Embora ele não tenha lembrado do nome do pai dos três irmãos, ele afirmou que era o senhor do engenho o pai deles. Não lembrava também da mãe dos irmãos. Dizia que era Caterina de Leão. Ora, se Chaves estiver certo quando tratava, sem saber, do avô materno dos irmãos, ANTÔNIO DIAS DE LEÃO, então avanço mais na minha árvore genealógica, pois ele dissera, segundo suas memórias, que falhavam um pouco, que a mãe dele era Caterina de Leão, portanto avó paterna de Lusia de Leão, esposa de José Cardoso Moreno. PEDRO CARDOSO MORENO é meu 9º avô. O nome dele e de seus irmãos IGNÁCIO CARDOSO MORENO e JOÃO DE ALMEIDA E GOUVEIA estão no testamento da mãe, LUSIA DE LEÃO.

Sobre Antônio Dias de Leão, diz o seguinte no processo de Chaves:

    "Disse mais, que haverá dezessete, dezoito anos no Sítio da Pindoba e casa de Antônio Dias de Leão, cristão novo, lavrador de cana, casado, não sabe com quem, filho de Caterina de Leão, não lhe lembrando nome do pai, natural e morador na Pindoba, não foi preso nem apresentado(...)" (6)

    Como sei que meu ancestral Antônio Dias de Leão era irmão de Duarte de Leão, que frequentava a SINAGOGA no tempo dos holandeses, deduzo que ele descenda de ABRAHAM ABOAB, que após se batizar em pé como DUARTE DIAS, teve uma série de descendentes com nome DUARTE, como vemos na genealogia dele. Mas isso fica para adiante, com a permissão do Eterno.



__________________

1. PROCESSO DE ANTÔNIO NUNES CHAVES. Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10475, fl. 1 e 3.

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2. Ibidem, f. 90 e 90v.

https://digitarq.arquivos.pt/fileViewer/d5618e420d364023bd8f386f7a90a6ee?isRepresentation=false&selectedFile=10171672&fileType=IMAGE

3. Ibidem, f. 90v e 91.

4. NOVINSKY, Anita. Rol dos Culpados. Inquisição. Fontes para a História do Brasil/Séc.XVIII. Expressão e Cultura. Rio de Janeiro, 1992, pág. 49.

5. VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. Antes da sua separação e independência de Portugal. Coleção 200 anos da Independência do Brasil. Tomo II. Senado Federal. DF, 2023, p. 725.

6. PROCESSO DE ANTÔNIO NUNES CHAVES. Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 10475, fl. 99 e 99v.

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