A Louca Paixão do Rei Ramiro pela Linda Moura


 

    Vivia na Espanha, passados pouco mais de dois séculos que o comandante muçulmano Tariq cruzara o estreito que separa a África da Europa com suas hordas berberes, uma linda moura, de nobre linhagem, irmã de Alboazar Almoçadam, sendo ambos filhos de Saddam Sada, e bisnetos do Rei Aboali, que conquistou a terra no tempo do Rei Rodrigo. Para infortúnio da moça, a fama de sua beleza e bondade chegara até a Ramiro II, Rei de Leão, que mesmo sem a ver, passara a cobiça-la (1) (2).

    Alboazar Almoçadam era senhor de toda a terra desde de Gaya até Santarém. Lutara em muitas batalhas contra os cristãos, inclusive o Rei Ramiro. Interessado na irmã do governante mouro, o rei cristão fez com ele grandes amizades.

    Mandou dizer a Alboazar que queria conhece-lo pessoalmente pela amizade que tinham, e que seria mais firme. O árabe concordou, mandando dizer que isso lhe agradaria, e que fosse a Gaya para aí se encontrarem.

    Ramiro, ardendo de paixão pela irmã do rei mouro, partiu para Gaya, comandando 3 galés (3) com fidalgos. Chegando lá, pediu a Alboazar que lhe desse a irmã, que a faria cristã e se casaria com ela.

    - Tu tens mulher e filhos dela. Se és cristão - pergunta o mouro - como podes casar duas vezes?

    - É verdade que sou casado. Mas tenho parentesco tão próximo com a Rainha, Dona Aldonça, minha mulher, que a Santa Igreja nos apartará.

    - Juro pela Lei do Profeta Mohammed (4) que não a te darei - tornou Alboazar. - por já a ter prometido em casamento ao Rei de Marrocos!

    Ramiro trazia consigo Aman (5), seu grande astrólogo, que por suas artes numa noite levou a moura às galés que estavam próximas. E o Rei Ramiro partiu em sua galé, levando consigo a jovem árabe. Mas chega Alboazar com suas embarcações, e um grande combate se sucede. O Rei de Leão perdeu 22 de seus melhores combatentes, mas morrem muitos de seus oponentes e ele consegue levar a princesa moura para Leão, e ali ela foi batizada recebendo dele o nome de Ortiga, que queria tanto dizer naquele tempo algo como "Castigada e Ensinada" e "Comprida de Todos os Bens".

    Alboazar Almoçadam, furioso, iria se vingar de tal desonra. Veio em mente se apossar de Dona Aldonça, mulher do Rei Ramiro. Ouvindo falar que ela se encontrava no Minhor (6), o Rei dos Mouros passou com suas naus e outras embarcações e as ocultou o melhor que pôde. E foi naquele lugar chamado Minhor. Entrou nessa vila e agarrou a rainha e a meteu nas naus, levando também as Donas e Donzelas que por aí achou, e seguiu para o Castelo de Gaya, que era, naquele tempo, dotado de grandes edifícios e grandes paços.

    Ao saber do que se sucedera, o Rei Ramiro entrou em tamanha tristeza que ficou louco por uns doze dias. Ao lhe voltar a razão, chamou seu filho, o Infante Dom Ordonho, e alguns de seus vassalos que tinham grandes feitos, e embarcou com eles em cinco galés, o máximo que conseguira. Não quis levar galeotes (7), senão aqueles que entendeu que podiam conduzir as galés. Mandou aos fidalgos que ocupassem os lugares dos galeotes, e tiveram que remar, já que eram muitos os combatentes, mas poucas galés para transporta-los (7). 

    Ramiro entrou com suas galés por São João de Furado, que depois se chamou são João da Foz. Cobriu as galés de pano verde. Aquele lugar de uma parte e da outra era coberta a ribeira de árvores. Sob o manto noturno, o Rei de Leão desembarcou com seus soldados sem que fossem percebidos. 

    Falou ao Infante que se deitassem sob as árvores, e permanecessem encobertos da melhor maneira possível. E que de modo nenhum se abalassem, até que ouvissem ele soar o berrante, e o acudissem apressadamente. Vestiu trajes humildes, e ocultou sua espada, o lorigão e o chifre sob eles.

    Ramiro foi se deitar junto a uma fonte que estava sob o Castelo de Gaya. Ao amanhecer, Perona, uma sergente (9)  natural da França, que servia à Rainha, levantou-se e se dirigiu à fonte, como era de costume. Alboazar já havia saído do Castelo, percorrendo uma região montanhosa. Lavando as mãos na fonte viu Ramiro, mas não o reconheceu. Ele lhe pediu em árabe da água, e por Deus, pois não podia se levantar. Ela deu-lhe por um acéter (10).

        O Rei meteu um pedaço de camafeu (11) na boca - a outra metade havia repartido com a Rainha. Ao beber a água, lançou-o no acéter. A sergente se retirou, e deu água à Rainha. Esta viu o camafeu, e o reconheceu logo. Perguntou à sergente quem ela encontrara no caminho. Mas a francesa respondeu que não encontrara ninguém. A Rainha lhe disse que mentia. Que não negasse, que lhe faria bem, que lhe seria concedida a graça do perdão. A sergente contou, então, que achara um mouro doente e leproso. A Rainha a ordenou que o trouxesse encobertamente.

    - Homem pobre, - disse a francesa à Ramiro - a Raimha, minha senhora, vos manda chamar. E isto é para vosso bem.

    O Rei de Leão seguiu a sergente. Entraram pela porta dentro da câmara, e o reconheceu a Rainha.

    - Rei Ramiro, quem te trouxe aqui?

    - O vosso amor! - respondeu o Rei à Rainha.

    - Não me tens amor, pois daqui levaste Ortiga, que mais prezas que a mim.

    E a Rainha depois disse:

    - Mas vai te agora por trás da câmara, sem que as damas e donzelas percebam. E eu irei logo para ti.

    A câmara era de abóbada. E assim que Ramiro a adentrou, Dona Aldonça o trancou com um grande cadeado. Nesse momento chegava Alboazar Almoçadam, e se dirigia para sua câmara. A Rainha se dirigiu a ele dizendo:

    - Se tu aqui tivesses ao Rei Ramiro, que lhe farias?

    - O que ele faria a mim. Matar-lhe com grandes tormentos - respondeu o mouro.

      Ramiro ouvia tudo.

    - Pois, senhor, presente o tens, que aqui está na trascâmara, trancado. E ora te podes dele vingar à tua vontade.

    E o Rei Ramiro se viu enganado pela mulher, e que já dali não podia escapar, a não ser por alguma arte. Meditou como poderia sair daí. Falou em seguida em alta voz:

    - Alboazar Almoçadam! Sabe que eu errei mal mostrando-te amizade. Levei desta casa tua irmã, e não era de minha Lei. Eu me confessei deste pecado ao meu abade, e ele me deu em penitência que me viesse cair em tua mão e em teu poder, e o mais humildemente que pudesse, e se me matar quisesses, que te pedisse, que como eu fizera tão grande pecado ante tua pessoa, e ante os teus em pegar à força a tua irmã, mostrando-se bom amor, que bem assim me desses morte vergonhosa em praça. E por quanto o pecado que eu fiz foi em grandes terras soado, que bem assim minha morte fosse soada por um berrante, mostrada a todos os teus. E agora te peço que, pois de morrer ei, que faças chamar teus filhos e filhas, e parentes, e a gente desta vila, e me faças vir a este curral, que é de grande ouvida, e me ponhas em lugar alto, e me deixes tocar o meu berrante, que trago para este ato, tanto que de me vá a alma do corpo, co m isso arrancarás vingança de mim, e teus filhos e parentes haverão prazer, e a minha alma será salva. E isto não deves de negar, pelo salvamento da minha alma, que sabes que por tal lei deves salvar, se puderes, as almas de todas as leis.

    Ramiro esperava se aproveitar do coração generoso de Alboazar, concentrando ali todos os filhos e parentes do mouro. O curral era alto, e não havia mais de uma porta por onde os seus haviam de entrar.

    Alboazar considerou o pedido, e se apiedou dele. E disse à Rainha:

    - Este homem arrependido é de seu pecado. Mais errado fiz eu a ele, que ele a mim. Grande erro faria de o matar, pois se põe em meu poder.

    - Alboazar Almoçadam, - respondeu a Rainha - fraco de coração, eu sei quem é o Rei, e sei de certo, que se o salvas da morte, que lhe não podes escapar, e senão aprendes dele, tu. Ele é arteiro e vingador, como tu sabes, e não ouviste tu dizer como ele arrancou os olhos a Dom Ordonho, irmão dele, que era maior que ele em dias por o deserdar do Reino? E não te acordas quantas lides houveste com ele e te venceu, e te cativou e matou muitos bons? E já se esqueces que levaste à força tua irmã? E, em como eu, sua mulher, me trouxeste, e que é a maior desonra que os cristãos podem ver? Não és para viver, nem para nada se te não vingas. E se tu o fazes por sua alma, que aqui o salvas, pois é homem de outra lei, e em contrário da tua, tu da-lhe a morte, que te pede, pois já vem aconselhado do seu abade. E grande pecado farias se partisses.

    O Rei dos Mouros, vendo a Rainha assim falar, disse em seu coração: "Que má ventura é o homem fia em nenhuma mulher! Esta é sua mulher legítima, e tem infantes e infantas dele, e quer sua morte desonrada. Eu não ei por que dela fie. Eu a afastarei de mim.

    E pensou no que disse a Rainha, como o Rei Ramiro era arteiro e vingador. E receoso dele se não o mata-se, mandou chamar todos os que habitavam naquele lugar, e disse a Ramiro:

    - Tu vieste aqui, fizeste grande loucura, que nos teus pecados poderás filhar esta pendência. E porque sei que se eu estivesse em teu poder que não escaparia da morte, eu quero te cumprir o que me pedes pelo salvamento de tua alma.

    Mandou tirar Ramiro da câmara e leva-lo ao curral, e po-lo sobre um grande padrão que aí estava. E ordenou que tocasse o berrante até que lhe faltasse o fôlego.

    Ramiro pediu a Alboazar que fizesse ali estar a Rainha e as donas e donzelas, e todos seus filhos e parentes, e cidadãos naquele curral. E Alboazar assim o fez.

    O Rei de Leão tocou seu berrante com toda sua força para que ouvissem os seus. E o infante Dom Ordonho, seu filho, quando ouviu o berrante, acudiu com os seus vassalos, e adentraram pela porta do curral. Ramiro desceu do padrão de onde estava, e foi em direção do infante lhe disse:

    - Meu filho, vossa mãe não morra, nem as donas e nem as donzelas que com ela vieram, que outra morte merece.

    Ali teve início o massacre dos mouros. Ramiro tirou a espada da bainha e com ela partiu a cabeça de Alboazar Almoçadam, fendendo-a até o peito. Mataram os quatro filhos e as três filhas de Alboazar, e todos os mouros e mouras que estavam no curral. E não ficou dessa vila de Gaya pedra sobre pedra que tudo não fosse em terra.

    Ramiro conduziu sua mulher com suas donas e donzelas para as galés. Depois chamou o Infante, seu filho, e seus fidalgos, e contou-lhes tudo como lhe acontecera com a Rainha, sua mulher, e ele que lhe dera a vida por fazer dela mais ainda justiça na sua terra. E todos se espantaram da tamanha maldade da mulher. E ao Infante Dom Ordonho saíram as lágrimas pelos olhos.

    - Senhor, - disse ele a seu pai - a mim não me cabe de falar disto, porque é minha mãe, contanto que olheis por vossa honra.

    Entraram, então, nas galés, e chegaram à foz de âncora. Foram dizer ao Rei Ramiro que a Rainha estava chorando.

    - Vamos ve-la - falou Ramiro.

    Ao ser perguntado pelo Rei por que chorava, ela lhe responde:

    - Porque mataste aquele mouro, que era melhor homem que ti.

    - Isto é demo. - disse Ordonho ao pai - Que quereis dele, que pode ser que vos fugirá?

    O Rei mandou-a então amarrar a uma mó, e lança-la no mar. Desde então, e daquele tempo, lhe chamaram a Foz da Âncora.

    E pelo pecado cometido pelo Infante Dom Ordonho contra sua mãe, disseram depois as gentes que por isso fora deserdado dos povos de Castela.

    Chegando em Leão, o Rei Ramiro fez suas cortes muito ricas, e falou com os de sua terra sobre as maldades da Rainha, Dona Aldonça, sua mulher. Que ele havia por bem de casar com Dona Ortiga, que era de alta linhagem. E todos a uma voz a louvaram e houveram por bem, porque disseram que por ela o grande astrólogo Aman disse que ela era pedra preciosa entre as mulheres que naquele tempo havia. E ainda disse mais. Que tanto havia de ser boa cristã, que Deus por sua honra lhe daria graças de homens bons, e de grandes feitos e aventurados em bem. E bem parece que Aman disse a verdade. Ortiga foi boa em em vida. Construiu o Mosteiro de São Julião e outros hospitais. Dos que descenderam dela foi comprido o que o astrólogo previu.

     O Rei Ramiro e Dona Urtiga tiveram um filho, o Infante Dom Alboazar Ramirez, que ficou conhecido como Cido Alboazar, e uma filha, Dona Ortiga Ramirez. Dentre os descendentes deles haveriam nomes de grande fama como Gonçalo Mendes da Maya, o Lidador; e Egas Moniz de Ribadouro, o grande aio de Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal (1) (12).

                

    

    

___________

1 - CONDE DOM PEDRO. Livro das Linhagens de Portugal, Título 21. Com uma etiqueta constando "Do Bispo Inquisidor Geral D. José Maria de Mello", e outra sobre a catalogação na Torre do Tombo (Casa Forte), com as seguintes indicações: Estante n° 3, P8 e Número: 148. Há uma inscrição em uma das páginas: "Da Livraria da Casa Espírito Santo de Lisboa". No início da 1a parte consta a seguinte anotação: "Pode-se encadernar .... 17 de ...1653. ... Soares de Castro."

2 - Giovanni Boccaccio em sua 5a novela no Decameron (Traduzida por Ivone C. Benedetti, com Introdução de Carlos Berriel) trata também de um monarca que cobiçara uma mulher sem nunca a ter visto. Era o Rei da França, que ouvira de um cavaleiro que a esposa do Marquês de Monferrato era a mais bela e mais valorosa dentre todas as mulheres do mundo. Aproveitando-se que o Marquês partira para a Cruzada, para além-mar, e já que ele também seguiria para a mesma, aproveitou e falou que só zarparia de navio em Gênova, e seguiu por terra em direção do castelo do italiano, que fazia parte do trajeto, se aproveitando da situação de a marquesa se encontrar sem o marido. Mandou, com um dia de antecipação à sua chegada ao castelo, avisar à marquesa que na manhã seguinte deveria espera-lo para almoçar. Sensata e prudente, ela respondeu alegremente que ele lhe concedia uma graça superior a qualquer outra, e que era bem-vindo. Passou depois a meditar sobre o significado da visita de um monarca tão poderoso na ausência de seu marido. Concluiu que ele era ali levado pela fama de sua beleza. Planejou então uma recepção para o Rei da França. Chamou alguns dos homens de confiança do castelo e os deixou preparados para qualquer imprevisto, enquanto ela cuidaria da preparação do banquete e dos pratos que seriam servidos. Chegando no dia marcado, o rei foi recebido com muita festa e honra pela marquesa. Ao ve-la, ficou maravilhado por acha-la ainda mais bela, virtuosa e cortês do que lhe haviam contado, aumentando ainda mais o seu desejo por ela. Durante o banquete, à medida que chegavam os pratos à mesa, o rei notou que embora fossem de diferentes preparos, só havia galinhas neles. Ora, no lugar onde estava deveria haver grande número de animais diversos. E a marquesa fora avisada com antecedência para o recepcionar, havendo tempo para caça-los. Com o semblante alegre, o rei perguntou à anfitriã:

- Minha senhora, aqui nascem só galinhas, sem galo nenhum?

A marquesa viu que era Deus atendendo ao seu desejo de dar a resposta devida àquele monarca.

- Não, Majestade, mas as mulheres daqui, embora se diferenciem um pouco das outras nas roupas e nas dignidades, são todas feitas como as dos outros lugares.

Essa resposta fez o monarca entender bem a razão do banquete à base de galinhas, e a virtude oculta nas palavras. Em vão seriam suas palavras para com tal mulher. E que naquele lugar não caberia o uso da força (e estava certo, pois a Marquesa preparara seus vassalos para qualquer eventualidade). Então, achou prudente terminar o almoço, e sem mais gracejos, receoso de outras respostas dela, agradeceu a honra recebida, recomendou-a a Deus e partiu para Gênova.


3 - Galé. Embarcação comprida e estreita, movida, principalmente, por remos, contando com duas velas acessórias.


4 - Maomé.


5 - Era comum nas cortes dos reis da Espanha haverem astrólogos judeus. O nome Aman, porém, lembra Haman, inimigo do povo judeu, citado no livro de Ester. Seria pouco provável que um judeu recebesse um nome desses. No final da história ele aparece como Amon.


6 - Minhor. É como aparece no Livro das Principais Linhagens de Portugal, composto por Sisto Tavares, adquirido por Damião de Goes, Guarda-mor da Torre do Tombo, a mando do Rei Dom João III, que pagou por ele e outros dois livros pequenos a quantia de 10 cruzados aos herdeiros. "Menor" é como consta no Livro de Linhagens do Conde Dom Pedro, na edição de 1653.


7 - Galeotes. Remadores de Galés.


8 - Fidalgos. Há uma diferença entre Fidalgo e Nobre:

"Enobrecer ou ser nobre é muito diferente de ser fidalgo. Só é fidalgo quem nasce e leva no sangue origem fidalga. Só os descendentes de fidalgos. Em heráldica se aprende que "os fidalgos fazem os Reis e os Reis fazem os nobres". Um Rei pode fazer de seu barbeiro, de seu sapateiro, etc., um nobre, dando-lhe um título: conde, barão ou o que for. Torna-o  nobre, mas não um fidalgo. Os títulos dados pelo Papa não fazem fidalgos; fazem nobres. (...) A palavra fidalgo quer dizer filho d'algo. Filho de alguém. Uma pessoa incapaz de saber os nomes dos seus bisavós, não é filho de alguém. Não é fidalgo." (BITTENCOURT, Adalzira. Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis. Editora Livros de Portugal S. A. Rio de Janeiro, 1965. Pág. 56).

No filme Mauá - o Imperador e o Rei, de 1999, é retratado o episódio do início da construção da primeira Estrada de Ferro no Brasil, no qual o Barão de Mauá convida a Dom Pedro II a assentar o primeiro dormente, dando-lhe uma pá feita para essa ocasião, feita de prata com cabo de jacarandá. Quem vê essa cena e logo em seguida a revolta do Monarca e de membros da nobreza, que ficam enfurecidos contra Mauá, pode ficar indignado, achando que eles se achavam superiores às outras pessoas. De fato se achavam, mas haviam leis que impediam os Fidalgos de exercerem qualquer função braçal, a menos que fossem relacionadas à guerra. Mauá não era nenhum ingênuo para desconhecer essas leis que vigoravam em sua época. Colombo, já bem antes, acabaria por ver todos os seus esforços no Novo Mundo irem por ladeira a baixo ao obrigar os fidalgos a trabalharem, durante sua segunda expedição. Acabaria voltando acorrentado para a Espanha depois de sufocar uma revolta desses fidalgos e ter executado vários deles.

Para se obter, no Brasil Colonial, a Patente de Capitão-mor ou Sargento-mor, um dos requisitos era de o interessado e seus ascendentes não tivessem exercido serviço braçal (PROFESSOR PINHEIRO. A busca da nobilitação no sertão: as patentes militares como fonte de pesquisa. Disponível em:                                 https://www.youtube.com/results?search_query=nobilita%C3%A7ao+no+sert%C3%A3o    Acesso em: novembro de 2024.


9 - Sergente. Pessoa que serve outra com lealdade.


10 - Acéter. Pequeno balde para tirar água de poços.


11 - Camafeu. Gema esculpida em baixo ou alto relevo.

12 - Essa história do rapto da moura pelo Rei de Leão ficaria conhecida como Lenda de Gaya. Há quem diga que ela tenha sido criada para encobrir uma infidelidade da rainha. Entretanto, é de estranhar, pois se estavam maqueando, por que um cristão iria lisonjear um mouro? Enquanto o muçulmano Alboazar Almoçadam reúne as virtudes dignas de um cavaleiro nobre, Ramiro II está mais para um dos mais pérfidos vilões que já houve. 



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