Idolatria ao Banditismo? - Entenda a real motivação dos fãs do Cangaço e Faroeste

 



Cada vez mais vemos aumentar o número de fãs pelo Cangaço - já há até roteiros turísticos por onde Lampião passou e morreu. Mas o que motiva esses fãs por esse tema? Seria uma idolatria ao banditismo, já que os protagonistas do Cangaço não passavam de ladrões e assassinos impiedosos?

Primeiramente é a semelhança entre o cangaceiro e o cowboy (caubói), que vemos desde nossa infância em filmes e HQs de faroeste - ambos vivem em um mundo onde a lei é frágil, e por vezes distante. O forte, numa época em que a honra vale mais que a vida, trata de humilhar o mais fraco, sabendo que este último não tem a quem recorrer, e que se reagir às ofensas, ele o matará, entrando mais um para sua lista de mortos, o que o fará mais temido ainda. Se o fraco quer por um fim às humilhações é preciso coragem para se impor, agindo de uma violência que seu agressor não espera. É o que vemos no filme O DIA DE IRA (I giorni dell'ira), de 1967. Nele, Scott, um jovem gari interpretado por Giuliano Gemma, é desprezado por todos na cidade em que vive. A discriminação é tão grande que chega ao ponto de ao ser convidado por um forasteiro para se sentar à sua mesa e beber whiskey com ele, o dono do saloon onde estão se negar a servir alegando que Scott era lixeiro. O forasteiro é Frank Talby, um famoso pistoleiro interpretado por Lee van Cleef, que com um olhar de poucos amigos e uma fala intimidadora, convence o dono do saloon a servir Scott. Mas um dos clientes do lugar se incomoda também e ameaça Talby de lhe dar um pontapé e joga-lo junto com Scott para a rua se os dois não se retirarem dali. Talby fala a esse incomodado que é melhor sacar a arma se pretende cumprir o que disse. Ao fazer menção de sacar a arma, o cliente é baleado por Talby, caindo morto. Scott, que já planejava virar pistoleiro para ganhar respeito, vê em Talby o mestre perfeito, e resolve acompanha-lo. Muitos que entraram para o Cangaço foram movidos também por questões de honra ao serem humilhados por algum Coronel ou policial local. Mas com o tempo os cangaceiros se tornam outros opressores para a população, o que fará muitos tomarem o lado oposto, o das Volantes - grupos de policiais formados para perseguir os cangaceiros, adentrando até em outros Estados, desde que estivessem conveniados para pôr um fim ao banditismo.

Segundo, as armas. Inicialmente os cangaceiros portavam o venerado rifle winchester, arma que era uma Lenda do Far West, tanto por seu poder de fogo, quanto pela sua bela aparência. Os cangaceiros também usavam a Luger P-08, pistola de 9 milímetros usada por oficiais alemães no início da Segunda Guerra Mundial, que virou souvenir para fãs de História Militar desse período.

Terceiro, Lampião além de corajoso, era um grande estrategista. Quase que acaba com uma tropa inteira de mais de duzentos policiais com apenas pouco mais de 70 homens. Os policiais são obrigados a largarem seus feridos para os cangaceiros, mesmo sabendo que estes seriam feitos em pedaços aos poucos, para poderem escapar. Dizem que morreram nesse dia mais de 40. Não duvido.

Resumindo, a maioria dos fãs do Cangaço ou do Faroeste não idolatram a Bandidagem. Gostam, na verdade, é da coragem, das lutas sangrentas. Gostar das histórias dos bandeirantes ou dos colonizadores portugueses por causa de sua bravura e coragem em adentrar um território hostil repleto de índios canibais, em florestas cheias de onças, serpentes venenosas, sucuris, não quer dizer que se goste das barbaridades que estes cometerem com suas vítimas.

Sou policial, embora não operacional - trabalho com perícia. Mas gosto das histórias de Cangaço pelos motivos citados acima. Vários amigos meus da mesma carreira também gostam. Acredito que poucos, por desconhecimento, gostem por considerar os cangaceiros heróis. Ao meu ver, Lampião, Corisco e Jararaca, assim como outros que não se renderam, tiveram o fim que mereceram - Lampião e Corisco com as cabeças dentro de copos de vidro para exibição ao público; Jararaca enterrado vivo pelos policiais do Rio Grande do Norte. Praticaram ou permitiram que outros barbarizassem até pessoas inocentes. Essa é a parte horrível sobre o cangaço, que deve também ser divulgada, para que eles não virem heróis, a ponto de Praças e Ruas ganharem seus nomes. Se querem lembrar o período, façam como em Mossoró, que até hoje celebra o dia em seu prefeito armou a população para que juntos com os policiais derrotassem o Rei do Cangaço.


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