Minha Avó Terezinha foi batizada por Padre de Patu que ficou famoso na época de Lampião
Terezinha, minha avó materna, faleceu no final de 2020
Você já ouviu falar da curiosa história do vinho que ocorreu com o padre alemão Geraldo Geld, em Patu, no Rio Grande do Norte, na época de Lampião? Então veja como eu, que não a conhecia, topei com ela.
Fazia mais de 30 anos que não via minha avó materna Terezinha Maria de Oliveira. Falei com ela, pelo celular, que depois da Pandemia faria a viagem de São Paulo até Umarizal, no Rio Grande do Norte para visitá-la. Lembro dela ter ficado já muito feliz só por ter conversado comigo.
Eu era como muito idosos no início do telefone - sem paciência para estar ligando ou falando pelo telefone. Quando os celulares se popularizaram, relutei em comprar. Só comprara meu primeiro celular, um Nokia, na esperança de participar do Show do Milhão, apresentado por Sílvio Santos. Desde que assistira ao Enigma, programa da TV Cultura que tinha testes de conhecimentos de História, ficara com vontade de participar, mas não tinha idade. Só anos depois é que participaria de um programa similar na TV Bandeirantes, o Melhor de Todos, dirigido pelo Daniel Filho, mas os prêmios eram medíocres, como os do Enigma. Tinha, porém, como atrativo a vantagem de não ser por sorteio, como o Show do Milhão, mas através de um teste escrito no Colégio São Luís, próximo à Avenida Paulista. Eram escolhidos os 100 melhores para participarem do programa. Destes, através de disputa, subiriam 10 no palco. Fui um deles. O melhor, porém, foi o que respondeu mais rápido a uma pergunta. Ganhei apenas um aparelho telefônico, que já naquele tempo não era caro. O vencedor, acho que foi um videocassete o seu prêmio, também nada comparado aos prêmios de hoje das grandes emissoras. Quanto ao Show do Milhão, nunca tive a chance de ser chamado. Logo que comprara o Nokia para participar do sorteio, o programa terminaria em um curto espaço de tempo. Pelo menos tive que ir me acostumando ao uso do celular, que tanto relutava em ter.
Quanto a visita que eu faria à minha avó, infelizmente, não mais se realizaria - ela, que já ficara abalada com a morte do meu avô, Benedito Batista de Oliveira, em 21 de fevereiro de 2016, ficou ainda pior ao ver as pessoas de sua época que ainda estavam vivas serem abatidas pelo vírus chinês. Seu coração não aguentou, vindo a falecer no dia 28 de dezembro de 2020, poucos meses depois que eu falara com ela.
Eu já lamentava por não ter mais visto meu avô. Lembro que ele não deixara nós sem mistura (sempre fui carnívoro), além de dar outros mantimentos, pois meus pais, que moravam em Carapicuiba, São Paulo, resolveram tentar a sorte em sua terra natal, Umarizal, em meados dos anos 80 - mas acabaram perdendo todas as suas economias em tentativas de terem um comércio, ficando sem renda alguma. Sou muito grato ao meu avô pela ajuda. Ele, assim como minha avó, era católico praticante que não perdia uma missa. Ao morrer, disseram que suas últimas palavras foram a de estar vendo anjos - eu acredito que ele realmente os estava vendo em sua partida deste mundo.
Meu pai, depois da situação humilhante de depender do sogro, saiu em busca de emprego em outras cidades, passando por Natal, Brasília, e finalmente para o lugar ao qual não queria mais retornar - São Paulo, morando porém em uma cidade mais longe ainda da capital, Jandira, porém, agradável, lembrando alguma cidadezinha do interior. Depois de se estabelecer nessa cidade, meu pai nos chamaria.
Meu avô Benedito Batista de Oliveira, também conhecido como Benedito Lavino, aos 90 anos em 18 agosto de 2014.
Antes da morte de minha avó materna, soube, através de reportagens, de algo que me deixou surpreso e curioso - pessoas que residiam em cidades próximas aos dos meus avós estavam comprovando que tinham ascendência judaica. Seriam descendentes de judeus sefarditas que foram perseguidos pela Inquisição, sendo obrigados a se tornarem cristãos para não morrerem queimados na fogueira - foram chamados de cristãos novos. Portugal, para se redimir dessa época, ofereceu cidadania portuguesa para quem comprovar essa ascendência e que foi perseguido pelo Tribunal do Santo Ofício. Fiquei interessado na cidadania portuguesa, mas fiquei mais ainda em saber se descendia de um dos grandes personagens bíblicos - Abraão, pai dos judeus e de vários povos árabes.
Pedi para minha tia Maria do Carmo se seria possível me enviar a cópia da certidão de casamento de minha avó. Ela, além de me enviar a imagem da certidão, me enviou também a da certidão de batismo de minha avó Terezinha. Agradeci muito a minha tia, dizendo que lhe daria uma cópia da árvore genealógica da família no dia em que estivesse pronta. Agora poderia dar os meus primeiros passos em busca de minhas origens.
Passado quase um ano, ao me atentar sobre a certidão de batismo de minha avó notei que ela tinha sido batizada em Picos. Como o Rio Grande do Norte não tinha nenhum município com esse nome, vi logo que se tratava de algum distrito. Foi aí que descobri que pertencia à Patu.
Estranhei a celebração do batismo não ter acontecido em Martins, que englobava Umarizal naquela época. Por que em Patu? Essa cidade não era tão perto de Umarizal, inclusive não faz limite com ela hoje.
O nome do padre que realizou o batismo me chamou a atenção: Geraldo Geld. Quem sabe ele não tenha algum fato importante ocorrido em sua vida? Resolvi pesquisar na internet. Foi aí que encontrei a seguinte anedota:
Em 10 de junho de 1927, de madrugada, Lampião e seu bando saíam da Paraíba, entrando nas terras do Rio Grande do Norte, dando início a roubos e sequestros por onde passavam.
No povoado de Boa Esperança, local pertencente hoje ao município de Antônio Martins, era realizada a festa de Santo Antônio, de frente a uma igrejinha. O povo se preparava para recepcionar a banda de música para a novena. Mas os devotos deram foi de cara com os cangaceiros, que acabaram com a festa, saqueando o comércio, quebrando até uma melancia na cabeça do dono.
Patu não foi invadida por Lampião e seu bando na época, mas a notícia de que estavam pela região, e de que haveria possibilidade de virem de Lucrécia, fez com que o chefe da intendência de Patu, Joaquim Godeiro da Silva, formasse dois grupos para defender a população do Rei do Cangaço. A população estava apavorada.
O Padre Geraldo Geld ficou assombrado com essa possibilidade, e tratou de esconder vários litros de vinho destinados às celebrações litúrgicas, enterrando as garrafas em determinado lugar. Passados vários dias, vendo que Lampião já estava em Mossoró, o padre foi desenterrar as garrafas de vinho. Mas, para sua surpresa, muitas delas estavam vazias, atribuindo-se à formigas e outros insetos a deterioração das rolhas de cortiças, fazendo o vinho ser bebido pela terra.
Passados apenas dois anos desses acontecimentos, no dia 20 de setembro de 1929, minha avó Terezinha seria batizada em Picos, no município de Patu, pelo Padre Geld. Fiquei imaginando na possibilidade de o Lampião estar chegando sem ninguém esperar, bem na hora do batizado, bagunçando tudo em volta...
LEIA TAMBÉM: A Terra já tinha Dono
Comentários
Postar um comentário