Descendência do Misterioso Frade do Apodi


 

    É por causa de dois de seus alunos que se tornariam padres famosos que o Professor Francisco Saturnino dos Reis, meu pentavô, que já lecionava no Apodi como particular por volta de 1824, que ele entraria para a História de Mossoró através dos preciosos escritos que nos foi deixado por Francisco Fausto de Souza. Um deles, o Padre Antônio Joaquim Rodrigues, se tornaria um político de enorme prestígio em Mossoró. Enquanto o outro, Padre Longino, ficaria conhecido pela autoria de fatos polêmicos que escandalizariam os habitantes de Mossoró e Apodi.

    O Professor Francisco Saturnino foi o fruto de um amor proibido, entre um frade, que quebrara seu voto de castidade, e, possivelmente, com alguma prima, sendo ambos, provavelmente de uma família poderosa da região de Mossoró, já que Fausto diz apenas que meu pentavô era filho natural de um frade leigo, conhecido como Irmão Reis (1). 

    Os frades leigos, ao contrário dos clérigos, que são padres, não recebem o sacramento da Ordem Sacerdotal, não sendo, portanto, permitido a eles celebrar a Missa e outros ofícios próprios do ministério pastoral. O frade (do provençal "fraire" - irmão), tanto o leigo como o religioso (que promete obediência ao seu superior, geralmente chamado de "provincial"), e o monge (do latim tardio "monachus" - que tinha o significado de solidão, diferindo do frade por viver em um convento, prometendo obediência a seu abade, se morasse em abadia, ou a um prior, se fosse em um priorado)  são pessoas que fazem votos de pobreza, castidade e obediência, pertencendo a uma congregação ou família religiosa completa (franciscanos, dominicanos, jesuítas etc.), enquanto os padres diocesanos, que prometem obediência solene a seu bispo, estão desligados do voto de pobreza, podendo possuir e herdar propriedades (2).

    O misterioso Irmão Reis, que Francisco Fausto de Souza tivera o cuidado de proteger a sua identidade, assim como a da moça que ele seduzira, deveria pertencer à família do Padre Longino. João dos Reis Guilherme de Mello, primo carnal desse padre, pode ser a chave para solucionar esse enigma. Além do uso do sobrenome Reis, um dos filhos de João, Alexandre, adotou o mesmo sobrenome do Professor Francisco - SATURNINO DOS REIS. Alguém muito próximo a Manoel Guilherme de Mello e a Geralda Joaquina Fraga, avós paternos de João dos Reis Guilherme de Mello, deve ser o pai de Francisco Saturnino dos Reis.

    Conta Fausto que os pais do Padre Longino o colocaram para aprender as primeiras letras com um frade leigo - seria o Irmão Reis? Se não era ele, poderia ser a forma com que se aproximou da mãe do Professor Francisco - dando aulas a ela.

    Francisco Saturnino dos Reis, seja lá quem eram seus pais, deve ter crescido no meio de uma família de posses, já que se tornara professor particular em uma época em que o Ensino era mais ministrado por membros da Igreja Católica. Um de seus filhos, Antônio Saturnino dos Reis, se tornara escrivão do Juiz de Paz do Distrito de São Sebastião de Mossoró - teria conseguido esse cargo através da ligação de um possível parentesco com os Guilherme de Mello? Ou apenas resultado de sua influência como professor?

    Ao falecer em 1837, o Professor Francisco tinha deixado uma boa herança para seus descendentes, já que houve até um Inventário, conforme podemos ver seu nome lançado numa listagem de inventários do Apodi (Deus ajude que esse inventário seja um dia encontrado, digitalizado e aberto ao público!).

    Pelo inventário de sua filha Francisca Carolinda da Natividade (3), datado de 1877, que não consta se ela era solteira ou viúva sem descendentes, sendo seus herdeiros apenas seus dois irmãos, Antônio Saturnino dos Reis e João Bento Saturnino dos Reis, meu tetravô, pode-se ver que ainda restara algo da herança do pai, já que seus bens se constituíam de duas meninas escravas. Visivelmente se vê que houve problemas no inventário ou na transcrição deste, pois parece serem 4 crianças, quando na verdade eram apenas duas. Abaixo, segue o que pude entender da descrição destas crianças, que poderá até servir para seus descendentes rastrearem os documentos:

- Romana, filha natural de Rosária (ao longo do inventário aparecerá como Busaria, Rusaria e Rusario), solteira, cor mulata, natural do Apodi, matriculada nesse município sob o número de ordem 252, relação 3. 14 anos. Consta que foi matriculada em Mossoró em 21 de setembro de 1832, aos 9 anos. Seu preço, no inventário, consta como 200$000. Capaz de algum serviço, mas sem nenhuma aptidão;

- Firmina, filha natural de Rosária, natural do Apodi, matriculada nesse município sob o número 253, e 4 no de ordem das relações. 3 anos. Matriculada em Mossoró em 21 de setembro de 1872, aos 8 anos. Seu preço, no inventário, consta como 200$000. Não possuindo nenhuma aptidão e profissão.

    Francisco Saturnino dos Reis era casado com Ana Benta, ainda viva em 1860, conforme vemos no Registro de Matrimônio do filho Antônio Saturnino dos Reis, ocorrido na Capela de São Sebastião, da Freguesia de Mossoró, em 7 de janeiro de 1860.

    Segue a descendência de Francisco Saturnino dos Reis, filho de IRMÃO REIS, e Ana Benta:

1 - Antônio Saturnino dos Reis

2 - João Bento Saturnino dos Reis

3 - Francisca Carolinda da Natividade


1 - ANTÔNIO SATURNINO DOS REIS - Nascido no Apodi, em 1830, conforme se calcula no inventário de sua irmã. Exerceu o cargo de escrivão do Juiz de Paz do Distrito de São Sebastião de Mossoró, segundo Fausto. Casou-se em 7 de janeiro de 1860, na Capela de São Sebastião, Mossoró, com Josefa Freire da Costa, filha de Manoel Ignácio da Costa e Joanna Baptista. Teve com Josefa os seguintes filhos:

1.1 - Luiza Saturnina dos Reis

1.2 - Luiz Macário dos Reis


1.1 - LUIZA SATURNINA DOS REIS - Nascida em Mossoró, no dia 11 de novembro de 1873. Faleceu em Dix-Sept Rosado, no dia 11 de janeiro de 1963. Era casada com João Francisco da Costa (falecido em 1921), filho de Eugênio José de Moraes e Francisca Maria da Costa, com quem teve os seguintes filhos:

1.1.1 - Francisca Luiza de Moraes

1.1.2 - João Victor da Costa

1.1.3 - Sebastião Saturnino dos Reis


1.1.1 - FRANCISCA LUIZA DE MORAES - Nascida em Mossoró, aos 4 de outubro de 1891, casou-se em 24 de janeiro de 1918, na mesma localidade, com João Pedro de Moraes, nascido também em Mossoró, no dia 13 de setembro de 1889, filho legítimo de Pedro Baptista de Moraes, nascido aos 8 de agosto de 1854, e de Maria Joaquina da Conceição, nascida aos 15 de junho de 1855.


1.1.2 - JOÃO VICTOR DA COSTA - Nascido em Mossoró, 1896. Era casado com Maria Idalina de Jesus, filha de  Sebastião Cirilo de Andrade e de Maria Amância da Conceição. Faleceu em 6 de abril de 1958, na cidade de Governador Dix-Sept Rosado.


1.1.3 - SEBASTIÃO SATURNINO DOS REIS - Nascido em Mossoró, no dia 22 de janeiro de 1908. Casou-se em 25 de setembro de 1945 com Maria Cirila de Moraes, nascida em 1 de janeiro de 1911, filha de Sebastião Cirilo de Andrade, falecido em 1922, e de Maria Amância da Conceição. Faleceu em 30 de agosto de 1990, na cidade de Governador Dix-Sept Rosado.


1.2 - LUIZ MACÁRIO DOS REIS - Nasceu em Mossoró, em 1876. Empregado público, segundo seu Registro de Casamento, datado de 18 de junho de 1906, cuja noiva, Joanna Rosalina dos Reis, filha de Victuriano José Vidal e de Rosalina Vidal de Oliveira, era natural de Catolé do Rocha, Paraíba. Teve com Joanna a seguinte filha:

1.2.1 - MARIA ROSALINA DE AZEVEDO - Nascida em Patu, em 1899. Faleceu em 27 de outubro de 1975, na cidade de Campina Grande, Paraíba.


2 - JOÃO BENTO SATURNINO DOS REIS - Meu tetravô. Nasceu no Apodi, em 1831, conforme se calcula pela idade constada no inventário de sua irmã. Em 17 de abril de 1886 já constava como falecido, como podemos verificar no Registro de Matrimônio de sua filha Francisca. Era casado com minha tetravó Maria Francisca da Conceição, com a qual tiveram os seguintes filhos: 

2.1 - Raimundo Justiniano de Andrade

2.2 - Francisca Maria da Conceição

2.3 - José Januário de Oliveira


2.1 - RAIMUNDO JUSTINIANO DE ANDRADE - Nasceu no Apodi, em 1860. Casou em Martins, no dia 30 de junho de 1896, com Maria Francisca da Conceição, que tinha 25 anos de idade, filha de Manoel Joaquim de Paiva e Joaquina Filgueira Lima.


2.2 - FRANCISCA MARIA DA CONCEIÇÃO - Nascida no Apodi, em 1864. Casou-se em Martins, no dia 17 de abril de 1886, com José Alves da Silva, que tinha 25 anos de idade, filho de José Alves da Silva e de Maria Francisca de Jesus, ambos falecidos nessa data.


2.3 - JOSÉ JANUÁRIO DE OLIVEIRA - Meu trisavô, nascido no Apodi, em data ainda ignorada. Casou em 19 de outubro de 1891, na Cidade de Martins, com minha trisavó Francisca Maria da Conceição, filha de Pedro José da Costa e Maria Magdalena da Motta, naturais de Tauá, Ceará. 

Através do Teste de DNA de Ancestralidade, acabei conhecendo um primo de 2° grau, Márcio José da Alves, nascido na Bahia, descendendo, como eu, de Pantaleão, filho de José Januário. Foi no dia 15 de novembro de 2022 que iniciamos nossa conversa pelo whatsapp. Fiz algumas perguntas a ele que eram repassadas à sua avó materna Maria da Luz Oliveira, viúva de Pedro Nolasco Oliveira, filho de Pantaleão. Ela contara que o pai de Pantaleão se casara várias vezes, morando até no Amazonas. Minha mãe nunca gostou de falar sobre a família dela. Para ela os mortos devem serem deixados em paz. Ainda assim resolvi falar com ela sobre os descendentes de Pantaleão que encontrei na Bahia. Joguei verde para colher maduro. Perguntei se ela sabia que o pai de Pantaleão fora morar no Amazonas. Minha mãe, então, se irou, e acabou revelando que José Januário de Oliveira abandonara a família, deixando todos para serem sustentados pelo coitado do Pantaleão. Acredito que deve ter sido no período da extração da borracha no Amazonas, e que meu tetravô José Januário tenha retornado para a família, já que em 20 de setembro de 1929 ele e sua esposa Francisca Maria de Lima eram padrinhos de minha avó Theresinha Maria do Carmo, conforme consta na Certidão de Batismo dela, que consegui com minha Tia Maria do Carmo.

Segue, abaixo, os filhos que José Januário de Oliveira e Maria Francisca da Conceição tiveram:

2.3.1 - Pedro

2.3.2 - Pantaleão José de Oliveira

2.3.3 - Vicência

2.3.4 - Francisca

2.3.5 - Maria

2.3.6 - Cândida

2.3.7 - José


2.3.1 - PEDRO - Nascido em Martins, no dia 1 de agosto de 1892. Foi batizado a 14 de agosto de 1892 pelo Padre Vicente Giffoni. Teve como padrinhos Manoel Vicente da Costa e Maria Francisca da Conceição.


2.3.2 - PANTALEÃO JOSÉ DE OLIVEIRA - Meu bisavô. Nasceu em Martins, no dia 7 de junho de 1893, conforme seu registro de batismo, datado de 6 de agosto de 1893. Seus padrinhos foram o Coronel Genuíno Fernandes de Queiroz, intendente (prefeito) de Martins, e sua esposa Vigolvina Maira de Oliveira. O batismo foi celebrado pelo Padre Vicente Giffoni. Pantaleão se casou em 9 de outubro de 1922, na Capela de Gavião, atual Umarizal, com minha bisavó Maria do Carmo Barbosa, nascida em Jaguaruana, Ceará, jovem viúva, que não chegara nem a um ano o casamento anterior. Seu marido anterior fora Antônio Lisboa de Morais, nascido em Mossoró.

Através das pesquisas de campo de meu primo Matheus, e de sua avó Maria de Lourdes Silva, que preservou até o registro de batismo de seu pai Pantaleão, além das informações do primo Márcio José Alves, e dos registros que encontrei, seguem os filhos que Pantaleão José de Oliveira e Maria do Carmo Barbosa tiveram:

2.3.2.1 - Milton Oliveira

2.3.2.2 - Pedro Nolasco Oliveira

2.3.2.3 - João Oliveira

2.3.2.4 - Terezinha Maria do Carmo

2.3.2.5 - Maria Augusta Oliveira

2.3.2.6 - José Oliveira

2.3.2.7 - Maria de Lourdes Silva


2.3.2.1 - MILTON OLIVEIRA - Nascido em Martins, 1925. Casado com Francisca Rodrigues.


2.3.2.2 - PEDRO NOLASCO OLIVEIRA - Nascido em Martins, 1926. Casado com Maria da Luz, com quem formou uma família na Bahia. Já falecido.


2.3.2.3 - JOÃO OLIVEIRA - Nascido em Martins, 1927. Cheguei a conhece-lo em Umarizal por volta de 1985, quando eu deveria ter 11 anos. Lembro quando veio de charrete, certa vez, para nos levar para passar uns dias em seu sítio. Infelizmente, minha mãe disse que não podia ir. Até hoje não conheço Martins... Dele também me resta a lembrança de estando na pequena mercearia de meu pai, ao passar um rato por uma das prateleiras, ele pegar uma peixeira, que estava sobre uma mesa, com enorme agilidade e espetar o bicho. Faleceu em 1991. Era casado com Antônia.


2.3.2.4 - TEREZINHA MARIA DO CARMO - Minha avó materna. Nasceu em Martins, no dia 17 de abril de 1929. Casada com Benedito Baptista de Oliveira, meu avô, filho de Luís Baptista de Oliveira e Ana Cândida Cavalcante. Era muito alegre e muito religiosa, passava, como minha mãe ainda o faz, boa parte do tempo na Igreja Católica, Faleceu em 28 de dezembro de 2020.


2.3.2.5 - MARIA AUGUSTA OLIVEIRA - Nasceu em Martins, 1933. Casada com Antônio Rodrigues.


2.3.2.6 - JOSÉ OLIVEIRA - Nasceu em Martins, 1936. Casado com Sebastiana Sabino.


2.3.2.7 - MARIA DE LOURDES SILVA - Nasceu em Martins, 1942. Viúva de Dorgival Turíbio da Silva, nascido em 1942, e falecido em 2001.


2.3.3 - VICÊNCIA - Nascida em Martins, no dia 16 de setembro de 1894, foi batizada pelo Padre Vicente Giffoni no dia 26 de setembro de 1894.


2.3.4 - FRANCISCA - Nasceu em Martins, aos 3 de dezembro de 1896, sendo batizada a 24 de janeiro de 1897. Foram seus padrinhos Saturnino Pinheiro de Andrade e Elvira (?) Ayres Patrícia.


2.3.5 - MARIA - Nascida em Martins, no dia 30 de novembro de 1901, foi batizada em 5 de janeiro de 1902, sendo seus padrinhos Christalino da Costa Oliveira e Dona Maria Claudina de Souza Oliveira.


2.3.6 - CÂNDIDA - Nascida em 11 de março de 1905, no município de Martins. Seu pai aparece como José Januário da Silva. Foi batizada em 27 de março de 1905, sendo seus padrinhos Porcino da Costa Oliveira e Joanna da Costa Oliveira.


2.3.7 - JOSÉ - Nascido em Martins, no dia 16 de novembro de 1906. Foi batizado em 21 de novembro de 1906 pelo Padre Misael de Carvalho. Foram seus padrinhos Joaquim Ignácio de Carvalho e Maria Gomes de Oliveira.


3 - FRANCISCA CAROLINDA DA NATIVIDADE - Nascida no Apodi em data ignorada. Faleceu em 1877, sem descendentes, deixando duas meninas escravas como herança para seus irmãos, conforme consta em seu Inventário de 1877.



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1 - Paulo Roberto Ribeiro, autor de Com todas as Letras - o Português Simplificado, explica que a palavra FREI por constituir uma forma de tratamento, só pode ser usada diante do nome da pessoa: frei Galvão, frei Damião. O membro da ordem religiosa, segundo ele, porém, é um frade. Exemplos: Frei Galvão era um frade franciscano ( e não um frei franciscano) / A moça visitou o convento dos frades dominicanos (e não dos freis dominicanos) / O colégio era dirigido por um frade (e não por um frei).

Frei, portanto, usa-se normalmente antes do prenome: frei Damião, frei Luís, frei Antônio. Já no caso de frei Galvão, há uma exceção, porque o título FREI precede o sobrenome. (RIBEIRO. Paulo Roberto. Dicas de Português: O Religioso é um Frade. Disponível em: https://www.ufla.br/dcom/2018/06/19/dicas-de-portugues-o-religioso-e-um-frade/#:~:text=N%C3%83O%20%C3%A9%20certo%20porque%20a,%2C%20por%C3%A9m%2C%20%C3%A9%20um%20frade. Acesso: Agosto 2023).

2 - ALETEIA. Qual é a diferença entre um padre, um monge e um frade? Disponível em: https://pt.aleteia.org/2020/06/23/qual-e-a-diferenca-entre-um-sacerdote-um-frade-e-um-monge/ . Acesso em Agosto 2023.

3 -  SANTOS, Sebastião Vasconcelos dos; OLIVEIRA, Nanci Neiza Wanderley. OUTROS INVENTÁRIOS MOSSOROENSES - 1863 A 1880. Coleção Mossoroense, Volume CXXXIII, 1980.




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