Os Negros Lavinos de PORTALEGRE

 



    Conta meu primo Toinho Cavalcante que a minha bisavó Ana Cândida Cavalcante, que o criara, era galega dos olhos azuis, vinda de uma família de origem italiana que trabalhava com artefatos de couro em Santana do Matos, Rio Grande do Norte, daí os indivíduos masculinos dessa família ganharem o apelido de Curtidor.

    Ana nascera em Santana do Matos no dia 17 de dezembro de 1894. Sua família, ao que parece, se mudara para Martins logo que se iniciara o Século XX, pois seu irmão José nascera em 1901 nesse município. Viviam no "Sítio Bom Princípio", propriedade de sua família.

    Foi visitando parentes em Portalegre, conforme me narrou Joana (1), sua filha caçula, que Ana acabou conhecendo meu bisavô Luís, que pertencia aos Negros Lavinos de Portalegre. Lavino era o apelido que uns Baptista de Oliveira de Portalegre usavam. Desconheço a origem. Assim, Luís Lavino na maioria dos registros está como Luís Baptista de Oliveira, assim como seu filho Benedito Lavino, meu avô, que constava como Benedito Baptista de Oliveira. Os Lavinos se espalharam também por Riacho da Cruz, pois segundo Joana, lá vivia Maria Lavina, sua prima legítima, casada com Chico Caboclo.

    Meu bisavô Luís devia ter uma boa lábia e um belo porte, pois acabou conquistando a galega de Santana do Matos. O pai dela ficaria uma fera...

    João Francisco Cavalcante não conseguiu evitar o casamento da filha com o negro de Portalegre. Mas a excluiu de sua vida. Visitava as casas dos outros filhos, menos a dela.

    Era por volta do ano de 1944 (2). João Francisco foi visitar a casa de João Curtidor, seu filho.

    - Isabela! - chamou ele por sua nora, no momento em que apeava do cavalo.

    Um gato saiu correndo de dentro da casa, saltando sobre o cavalo, que acabou se assustando, saindo em disparada, levando junto João Francisco, que enroscara uma de suas botas ao estribo. Sua carne foi sendo rasgada pelas pedras que havia por um terreno em que seu cavalo passou. 

    João Curtidor encontrou seu pai já bem mal, que lhe pediu para o levar até a casa da Ana. Agonizando, pediu perdão à filha por ter ficado de mal com ela. Depois foi abençoa-la. Assim que terminou de abençoar a filha, meu trisavô expirou (3).

    

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1 - Sou grato ao meu Tio João Lavino e à sua esposa, Vera, por me darem o contato de Luzia, filha de Dona Joana. Luzia foi muito gentil e paciente em repassar para sua mãe as perguntas que eu fazia, e por me fornecer a imagem do registro de óbito de minha bisavó Ana.

2 - Joana acredita que tinha uns 5 anos de idade na época do fato.

3 - Meu pai, que conheceu Luís Lavino, me contou uma outra versão. Me falou que em vez do gato, era um menino levado que saíra correndo da casa, gritando: - Vovô! 

Mantive a versão de Joana, neta de João Francisco.



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