Acesso às MEMÓRIAS ANCESTRAIS arquivadas no Inconsciente
Enquanto escalam a montanha, que daria acesso a uma tribo mexicana, o cientista pergunta ao guia:
- Quais são as propriedades químicas? São seguros?
- Esses cogumelos - responde o guia - devem ser amanita muscaria, poderoso psicodélico e um pouco perigoso. Contém beladona, alcaloides, atropine, scopolamine.
Chegando ao topo, o guia ajuda o cientista a subir, puxando-o por um braço. Já sentados sobre o solo rochoso, o relato sobre alucinógenos continua.
- A planta sinicuichi é altamente considerada entre várias tribos indígenas. Vi isto ao norte até Chihuahua. Os índios dizem que evoca recordações... até as mais remotas. Os Hinchis chamam "A Primeira Flor".
- No sentido primordial?
Essa é a descrição de uma cena do filme Viagens Alucinantes (Altered States), de 1980, dirigido por Ken Russel, com roteiro de Paddy Chayefsky. William Hurt interpreta o cientista Eddie Jessup, obcecado em ter o acesso à memória dos primeiros seres humanos fazendo uso de alucinógenos usados por tribos indígenas.
Sabemos que herdamos de nossos antepassados partes de sua fisionomia, temperamento, e até doenças. E quanto à memória deles?
O escritor norte-americano Robert Ervin Howard, criador do personagem Conan, O Bárbaro, em carta para seu amigo Clark Ashton Smith, em 14 dezembro de 1933, assim escreveu:
"Eu mesmo sou da opinião de que mitos e lendas difundidos são baseados em algum fato, embora o fato possa ser distorcido e impossibilitado de ser reconhecido ao ser contado. Embora eu não chegue ao ponto de acreditar que as histórias são inspiradas por espíritos ou poderes realmente existentes (embora eu me oponha a negar categoricamente qualquer coisa), às vezes me pergunto se seria possível que forças não reconhecidas do passado ou do presente ou mesmo o trabalho futuro através dos pensamentos e ações dos homens vivos. Isso me ocorreu especialmente quando eu estava escrevendo as primeiras histórias da série Conan. Sei que durante meses estive absolutamente estéril de ideias, completamente incapaz de elaborar algo que pudesse ser vendido. Então o homem Conan pareceu crescer em minha mente sem muito esforço de minha parte e imediatamente uma torrente de histórias fluiu de minha caneta, ou melhor, de minha máquina de escrever quase sem esforço de minha parte. Eu não parecia estar criando, mas sim relatando acontecimentos ocorridos. Episódio lotado em episódio tão rápido que eu mal conseguia acompanha-los. Durante semanas não fiz nada além de escrever sobre as aventuras do Conan. O personagem tomou posse total da minha mente e excluiu todo o resto na forma de escrever histórias. Quando tentei deliberadamente escrever outra coisa, não consegui. Não tento explicar isto por meios esotéricos ou ocultos, mas os fatos permanecem (1)."
Não me lembro se o nome dela eu vi pela primeira vez num filme ou se fora num livro. Mas o que eu sei é que desde que ouvi ou li o nome ELEANOR DE AQUITÂNIA me senti estranhamente atraído por ele. O vira num livro que ganhara. Era de História Geral, publicado pelo Colégio Objetivo, de autoria do jornalista Heródoto Barbeiro. E o ouvira num grandioso filme em ritmo meio teatral, O Leão no Inverno (The Lion in Winter), de 1968. Drama histórico medieval muito bem encenado, narra a permissão que o marido de Eleanor, o Rei da Inglaterra, dera a ela para sair do castelo em que vivia enclausurada para comemorar o Natal com a família. Passadas mais de duas décadas, em meio a Pandemia que assombrava o mundo globalizado do Século XXI, quando o Eterno me deu meios para estudar a até então elitista ciência da Genealogia (2), ao conseguir estender minha Árvore Genealógica até à Idade Média, vi, com surpresa, que Eleanor de Aquitânia era minha ancestral. Passei a imaginar que em algum lugar do meu inconsciente a Rainha Eleanor estaria ali, ainda que 800 anos nos separem. Essa Avó da Europa faz parte do inconsciente coletivo (3) de muita gente. Subsistindo sua carga genética pelos casamentos de primos com primos ao longo dos séculos. E de alguma forma ela atua na psique de alguns de seus descendentes, como no meu caso, ao me fazer se interessar por sua pessoa. Correndo atrás de mais informações sobre ela acabei vendo que ela não foi uma rainha comum. Foi muito além das mulheres de seu tempo. E como a maioria das pessoas que entraram na História da Humanidade, ela procurou (procura?) não ficar esquecida nas areias do tempo. (4)
Alguns personagens históricos que eu admirava desde a infância por seus feitos de cavalaria também encontraria na minha Árvore Genealógica, como El Cid. Mas um nome que vi, julguei fazer parte apenas da ficção - CONAN. Era um duque da Bretanha, que vivera por volta do ano 1000. (5). O Conan que eu conhecia era o bárbaro criado pelo escritor Robert Howard. Seria esse escritor texano também descendente do mesmo Conan? Vi no Family Search, agora sem espanto, que ele também descende de Conan, embora eu não tenha averiguado as inserções na Árvore Genealógica de Robert Howard até ele. Mas acredito que descenda mesmo. Teria sido Conan, o Duque da Bretanha, a força do passado que lhe teria dado inspiração para escrever as suas histórias, baseadas no mundo violento em que viveu, mas que chegaram distorcidas, ainda assim interessantes às pessoas de nosso tempo, para Howard?
Talvez um dia a Ciência, através da Genética, chegue a tal ponto que possamos fazer verdadeiras viagens pelo tempo acessando a memória de nossos ancestrais arquivadas em nosso inconsciente, retrocedendo a partir do ponto que eles geraram o indivíduo que nos antecederá em algum ponto da nossa Árvore Genealógica. Teríamos acesso, além do arquivo da visão, no qual estaria gravado os principais momentos de tudo o que nosso antepassado visualizou desde o seu nascimento até à geração do indivíduo que daria a sequência à nossa ancestralidade, aos arquivos do paladar, onde teríamos a sensação da degustação dos alimentos que ele provou; do olfato, sentindo os odores; e do tato, tendo a sensação daquilo que ele tocou ou foi tocado; da audição, ouvindo sons que ele ouviu. Quem sabe até poder ter acesso aos pensamentos de nosso ancestral, ouvindo até as vozes que perturbavam um antepassado nosso que tenha sido esquizofrênico... Tudo poderíamos sentir, mas que não poderíamos interagir - como uma viagem física no tempo, no qual se um dia a humanidade puder realizar, não poderá ser autora de nenhuma ação, pois não poderá interferir no passado. No caso de uma viagem pelas memórias arquivadas no inconsciente daqueles que nos antecederam seríamos limitados automaticamente por se tratarem apenas de lembranças.
Se a humanidade chegar ao ponto de um dia poder realizar viagens pelo que sobrou das memórias daqueles que nos antecederam, e se pudermos escolher de qual antepassado queremos ter acesso às memórias, já vou visualizando empresas ganhando fortunas com essas viagens mentais, enquanto manifestantes e advogados pressionam as autoridades para que as encerrem por não ser nada ético acessarmos sem permissão as memórias daqueles que nos antecederam. Imagino também a situação de um indivíduo descendente do Rei Salomão querer vivenciar as experiências sexuais desse rei israelita com suas 1000 mulheres, pagando por essa experiência o que bilionários pagaram para viajar pelo espaço ou pelo fundo dos oceanos. Além de penetrar na privacidade dessas pessoas, pois, embora não comande o ato, sentirá todas emoções desse rei na cópula com essas mulheres. E poderá cometer incesto, pois uma dessas mulheres o gerou.
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1 - THE NEWCOMER'S GUIDE TO ROBERT E. HOWARD. Robert E. Howard and the Ghost of Conan. Disponível em:
https://rehguide.wordpress.com/2010/12/22/robert-e-howard-and-the-ghost-of-conan/ Acesso: novembro de 2024.
Fique aí e escreva. No documentário Conan Unchained - The Making of Conan the Barbarian, John Milius, diretor do filme, distorceria o relato de Howard, talvez não intencional, dizendo:
"Mas a melhor parte é que ele [Howard] está sozinho uma noite e sente uma sombra alcança-lo por trás, e ele sabe que Conan está parado atrás dele com um grande machado. E Conan diz a ele:
- Fique aí e escreva, e se você não fizer exatamente o que vou dizer, vou partir você no meio.
E então, ele está tão apavorado, porque Conan exala tanto poder e medo, e ele podia ver o machado brilhando em sua visão periférica, você sabe, que ele escreve a noite toda!"
2 - Genealogia, área do conhecimento voltada antes apenas para a Elite. Meus primeiros passos para criar minha Árvore Genealógica foram desanimadores quando quis avançar para os trisavôs do lado materno. Tive que pagar 80,48 pela pesquisa em Cartório da certidão de um bisavô, que veio com resultado negativo, no início de dezembro de 2020. Se ali, que eu tinha a data e o local de nascimento de meu bisavô, e ainda assim perdera uma boa quantia em dinheiro, sem obter nenhum resultado, imagine sem data, pesquisas que englobam períodos de dez anos? Nesse ritmo eu perderia rapidamente, se tivesse a minha disposição, uns 10.000,00. E com poucos resultados. E se fosse contratar um bom genealogista, para alcançar antepassados que nasceram por volta de 1500, teria que desembolsar entre 30.000,00 e 100.000,00, e ainda pagando esse valor não iria querer dizer que eu conseguiria chegar até os referidos ancestrais. É por isso que agradeço a Deus por me fazer conhecer o serviço de Genealogia da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o Family Search (FS), e aos membros dessa igreja por não cobrarem pelo acesso, e nem imporem a exigência de ser um membro dela. Sou grato também aos bispos da Igreja Católica e aos Tabeliões de Cartório que permitiram que o FS digitalizasse seu acervo e o disponibilizasse online. Grato, também, aos Juízes de Direito que permitem que documentos públicos como Inventários Post Mortem, tão importantes na Genealogia, sejam digitalizados e estejam disponibilizados ao alcance de todos.
3 - Inconsciente Coletivo. Jung dividiu as memórias no inconsciente em duas. Inconsciente Pessoal seriam conteúdos inconscientes de natureza pessoal de um indivíduo, baseadas em suas experiências, enquanto o Inconsciente Coletivo seriam conteúdos inconscientes de natureza impessoal, memórias que herdamos de nossos antepassados. (JUNG. Carl Gustav. O Inconsciente. Obra Completa. 7/2. Tradução de Dora Ferreira da Silva. Editora Vozes. Petrópolis, 2014. Parágrafos 202 a 220.).
Avó da Europa. Régine Pernoud, que escreveu o artigo Leonor da Aquitânia para a Enciclopédia Britânica, que fez parte da homenagem às 100 mulheres pioneiras que deixaram suas marcas indeléveis no mundo (100 Women), fala que Eleanor bem que mereceria ser nomeada a "avó da Europa".
4 - Embora Eleanor não seja, infelizmente, conhecida pela maior parte daqueles que amam a História, dois de seus filhos são mundialmente conhecidos - Ricardo Coração de Leão, o rei inglês que ficou conhecido por sua bravura nas cruzadas, e João sem Terra, primeiro governante a assinar uma Carta Magna, ainda que sob pressão, mas que ficou mais conhecido na Literatura e no Cinema como o rei vilão da época de Robin Hood, o ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres. No filme Leão no Inverno a Rainha Eleanor é interpretada por Katherine Hepburn, enquanto que seu marido, o Rei Henrique II, quem interpreta é o ator Peter O'Toole, famoso por Lawrence da Arabia. Quanto aos filhos, Anthony Hopkins, de O Silêncio dos Inocentes, é Ricardo, enquanto Nigel Terry, de Excalibur, é o João Sem Terra. Minha antepassada que descende de Eleanor não aparece no filme por na época em que é ambientado já estar casada com o Rei Afonso VIII de Castela. Ela também se chamava Eleanor.
5 - PRICE. Neil S. The Vikings in Brittany. Viking Society for Northern Research. University College. London, 1989. p. 52.
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