Quando nos aprofundamos muito nas Pesquisas Genealógicas e acabamos derrubando nossos Ancestrais do Pedestal...
Se você já assistiu a telenovela Xica da Silva, produzida e exibida pela extinta Rede Manchete entre 1996 e 1997, viu então as figuras marcantes e imponentes do Sargento-mor e do Capitão-mor.
Imagine a dificuldade para alguém de origem humilde alcançar as patentes militares de Sargento e Capitão no período colonial. Agora acrescente o MOR no final dessas patentes e aí podemos dizer que era quase praticamente impossível. Só para se ter uma ideia, mesmo um rico teria enorme trabalho, e ainda assim poderia não conseguir. Para ser Sargento-mor, que era uma patente abaixo do Capitão-mor, era preciso ser um fidalgo. E um fidalgo era muito mais que um nobre.
"Enobrecer ou ser nobre é muito diferente de ser fidalgo. Só é fidalgo quem nasce e leva no sangue origem fidalga. Só os descendentes de fidalgos. Em heráldica se aprende que "os fidalgos fazem os Reis e os Reis fazem os nobres". Um Rei pode fazer de seu barbeiro, de seu sapateiro, etc., um nobre, dando-lhe um título: conde, barão ou o que for. Torna-o nobre, mas não um fidalgo. Os títulos dados pelo Papa não fazem fidalgos; fazem nobres. (...) A palavra fidalgo quer dizer filho d'algo. Filho de alguém. Uma pessoa incapaz de saber os nomes dos seus bisavós, não é filho de alguém. Não é fidalgo." (1)
O pretendente a tais patentes deveria comprovar que ele, seus pais e avós nunca exerceram atividade mecânica, que é o serviço braçal, além de comprovação de limpeza de sangue. (2)
Faz já um tempo que vejo em livros e no Family Search (FS) meu 8° avô, Manoel Martins Lopes, casado com Francisca Bernarda de Sá, minha 8° avó, com a patente de Sargento-mor. Seria o ancestral mais próximo de mim com tal patente.
Os divulgadores de que Manuel Martins Lopes era Sargento-mor se baseavam em seu requerimento feito na Paraíba, datado de 4 de abril de 1769. Mas era apenas um requerimento, ou seja, um pedido. (3)
O governador da Capitania da Paraíba é quem tinha encaminhado o requerimento, mas o rei respondeu foi para o governador da Capitania de Pernambuco, a qual a Paraíba estava subordinada nesse tempo (daí os autores de agora e de outrora não terem encontrado nenhuma resposta na Paraíba por estar em Pernambuco):
"Dom José, por graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarves, daquém e dalém Mar em África, Senhor da Guiné... Faço saber a vós, Governador e Capitão General da Capitania de Pernambuco, que Manoel Martins Lopes requereu no meu Conselho Ultramarino a confirmação da Patente, de que se vos remete cópia, do posto de Sargento Mor ad honorem da Capitania do Piancó, de que é Capitão Mor Francisco de Oliveira Ledo, que vagou por Antônio Borges Barbalho, no qual posto aproveu Jerônimo José de Melo e Castro, Governador da Paraíba do Norte, e sendo visto o seu requerimento. Me pareceu ordenar vos informar com novo parecer. El Rei Novo Senhor o mandou pelos conselheiros do seu Conselho Ultramarino abaixo assinado, e separou por duas vias. Pedro José Correa a fez em Lisboa, doze de abril de mil setecentos e sessenta e nove. Pagou de feitio desta ... o secretário Joaquim Miguel Lopes Laure a fez escrever. João Alberto de Castelo Branco. José Carvalho de Andrade".
Segue o novo parecer, de Manuel da Cunha Meneses, Governador de Pernambuco:
"Pretende Manuel Martins Lopes, que V. Magestade seja servido confirmar-lhe a Patente do Posto de Sargento Mor ad honorem da Capitania do Piancó, de que é Capitão Mor Francisco de Oliveira Ledo; no qual vaga provera Jerônimo José de Melo e Castro, Governador da Paraíba do Norte, pela Patente cuja cópia acompanhou a Real Ordem em fronte."
"Consta pela data da dita Patente ser passada a três de março de mil e setecentos e sessenta e seis, tempo em que ainda não estava em prática a Carta Régia de vinte e dois de março do dito ano; e como em novembro desse mesmo ano, principiaram as Promoções que ela determina, parece conveniente abolirem-se semelhantes Postos fantásticos sem corpo, denominada ad honorem, porque não tendo utilidade alguma para o serviço, se podem prover as pessoas neles ocupadas, nos que V. Magestade é servido mandar criar de novo; e nesta consideração me parece inútil a pretensão de ser confirmada a Patente referida."
"V. Magestade, porém ,mandará o que for servido. Recife de Pernambuco, cinco de junho de mil setecentos e setenta e dois."
Pode ser que o Governador de Pernambuco não tenha gostado por não ter passado antes por ele o requerimento, já que o rei é quem o informa sobre o recebimento em seu Conselho Real. De qualquer forma, mesmo que fosse confirmada a patente, esse meu antepassado não seria considerado de fato um Sargento-mor, já que ele há o acréscimo "ad honorem", o que significa que ele era apenas um Sargento-mor honorário, e não um de fato. Certamente não atendia aos requisitos para um Sargento-mor, se contentando com um título honorário. Mas por ter exercido esse POSTO FANTÁSTICO a que se referiu o Governador de Pernambuco, enquanto aguardava a legitimidade dele, Manuel Martins Lopes deve constar como Sargento-mor em registros como de batismo e matrimônio.
Manuel Martins Lopes tinha grande influência em Piancó devido ao seu sogro, o capitão-mor José Gomes de Sá, e seu cunhado, o coronel José Gomes de Sá. Ainda assim não foi o suficiente nem mesmo para ser um Sargento-mor ad honorem. Talvez, se fosse um pupilo do Marquês de Pombal, quem sabe. A sogra de Manuel era Maria Mendes de Barros. (5)
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1. BITTENCOURT, Adalzira. Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis. Editora Livros de Portugal S. A. Rio de Janeiro, 1965, pág. 56.
2. PROFESSOR PINHEIRO. A busca da nobilitação no sertão: as patentes militares como fonte de pesquisa. Canal do YouTube.
Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=6D177IrejJk&t=1395s
Acesso: 5 de julho de 2025.
3. PROJETO RESGATE BARÃO DO RIO BRANCO. AHU-Paraíba, mç. 35 . AHU_ACL_CU_014, Cx. 24, D. 1853.
4. Ibidem. AHU_CU_PERNAMBUCO, Cx. 112, D. 8662
5. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Viagem através da Província da Paraíba. Estado da Paraíba, Secretaria da Educação, Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo. João Pessoa, 1985, pág. 148 e 149.
Francisca Bernarda de Sá como filha de José Francisco Seixas e Custódia Gomes de Sá. É o que diz Thiago Aécio de Sousa, em A Família Sousa do Sertão Paraibano, Origens e Principais ramos familiares, Joinville, 2020, pág. 13 e 14. Mas pela minha interpretação do meu teste de DNA de Ancestralidade, a filiação coincide com as informações de Wilson Seixas. A proximidade do marido no âmbito da política com o Coronel José Gomes de Sá seria justificada sendo ela irmã deste. No registro de batismo de Manoel, filho de Manuel da Silva da Silveira e de Manoela Roiz, datado de 12 de julho de 1751, na Fazenda do Riacho da Ribeira das Piranhas, aparecem como padrinhos o Tenente Manoel Martins Lopes e Francisca Geralda do Sacramento - esposa do Coronel.
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